quarta-feira, 13 de abril de 2011

Corpo Ciborg e o Dispositivo das Novas Tecnologias - Comentários

O desenvolvimento das ciências e das tecnologias tem possibilitado a ocorrência de profundas transformações tecnológicas no corpo humano. Tal desenvolvimento tem provocado uma revolução tecnológica nos hospitais, laboratórios e consultórios médicos, o que nos permite concordar com Homero Alves de Lima (2009) quando ele afirma que cada vez mais, a tecnologia investe no biológico e o biológico invade o mundo das máquinas, chegando a tal ponto de nos questionarmos sobre o que significa mesmo “ser humano”?
Neste Artigo Homero Luís Alves de Lima nos instiga a pensar na idéia da fusão do biológico com o tecnológico que tem invadido nossa cultura, fazendo-nos refletir sobre a nossa convivência diária com ciborgues, uma vez que frequentemente nos deparamos com pessoas que usam órgãos artificiais, têm uma prótese , como um marca passo eletrônico, ou que utilizam sistemas de implante de drogas ou implante de lentes de córneas, dentre outros. Estas pessoas tornam-se figuras familiares em nosso contexto atual.
Segundo ele, a crescente e intensa integração entre componentes biológicos, mecânicos, eletrônicos e digitais, as interações complexas entre o orgânico e o inorgânico, o real e o virtual, o natural e o artificial mostram que as fronteiras metafísicas fixadas pelo humanismo estão gradativamente se desfazendo.
Assim, os dispositivos das novas tecnologias são concebidos como práticas de poder saber que investem o corpo hoje, fazendo circular um dado regime de visibilidade-dizibilidade sobre as relações contemporâneas corpo e tecnologia.

Comentários sobe o texto Corpos Amputados e Protetizados: “Naturalizando” Novas Formas de Habitar o Corpo na Contemporaneidade de Luciana Paiva

O texto de Luciana Laureano Paiva aborda uma questão bastante relevante sobre a condição de indivíduos portadores de corpos amputados e protetizados, buscando compreender os efeitos produzidos pela amputação em seus corpos e na sua própria vida, bem como os sentimentos produzidos pelo olhar dos outros em seus corpos amputados. O olhar daqueles apontados pela sociedade como normais, perfeitos, eficientes, saudáveis e belos.
Este trabalho tornou-se ainda mais proeminente por abordar histórias reais, relatadas a partir de entrevistas com pessoas amputadas e protetizadas que vivenciam o desafio diário de conviver sendo olhado como diferente em uma sociedade onde prevalece o imperativo da aparência e da juventude, que privilegia a eficiência e o dinamismo, onde o corpo passou a ser visto como um artefato de presença que ostenta a identidade do indivíduo, que será classificado e julgado a partir de sua exterioridade.
Dessa forma, falar do corpo humano convoca-nos a falar, a mencionar as tecnologias que dele se ocuparam no decorrer de sua história. Estas tecnologias se que acoplaram ao corpo, invadindo seus territórios biológicos, tanto externo como interno, assumindo múltiplas formas e funções. São as próteses de toda natureza, máquinas que estão cada vez mais presentes na vida das pessoas.
È interessante destacar também que na busca da protetização, tanto o trabalho do fisioterapeuta como o do protetista são de extrema relevância, pois esses profissionais preparam o corpo do indivíduo amputado para receber uma prótese, que passará a ser um acessório pessoal em sua vida.
Retomo as palavras da autora para reforçar a importância e necessidade da reflexão sobre a questão da amputação dos corpos humanos, da busca da correção daquela imperfeição através do uso de próteses e das transformações que o uso dessas próteses traz para a forma de viver das pessoas na contemporaneidade. Ela afirma que para os indivíduos com corpos amputados, o uso de prótese marca a mudança de um estado de ser e de viver para outro, como muitos dos “rituais de passagem” que se vivencia, como o nascimento, o casamento e a formatura, entre outros. Para eles, a mixagem entre o orgânico e o artificial surgiu como uma nova possibilidade de ressignificar a “morte” de uma parte de seus corpos e de um estilo para renascer numa nova configuração corporal, permitindo-se habitá-los novamente, aptos para uma nova vida (2009, p.161).

Comentários sobre o artigo Os Percursos do Corpo na Cultura Contemporânea de Malu Fontes

Neste artigo Malu Fontes apresenta e analisa características e conceitos referentes ao corpo canônico, que foi exaustivamente publicizado pelas mídias de massa no final do século XX, contrapondo-o ao corpo dissonante.
O texto faz uma abordagem mais voltada para a corporeidade feminina, situando-nos a partir da década de 80. E nesse contexto, leva-nos à reflexão do quanto é difícil e angustiante ter que conviver com os preconceitos acentuados pela mídia relacionados à cultura corporal, numa sociedade que valoriza e cultua o corpo canônico, sinônimo de beleza, juventude, saúde, sensualidade e boa forma física. Principalmente quando se tem um corpo dissonante em relação à corporeidade canônica vigente, ou seja, quando se é gorda, deficiente física, velha ou negra.
O corpo dissonante é mantido fora da pauta de discursos e imagens da cultura de massa, aparecendo nesse contexto sob a configuração de espetáculo ou denúncia.
Ao analisarmos os percursos do corpo na cultura contemporânea, vale a pena também refletirmos sob o aspecto de que o culto ao corpo tem excedido as questões de gênero, abrangendo o público masculino. E dessa forma, podemos observar que, de modo geral, as pessoas têm submetido seus corpos aos artifícios técnicos, das cirurgias plásticas e próteses visando melhorá-lo, potencializá-lo e canonizá-lo, passando a serem aceitas e incluídas.

Comentários sobre o texto Uma Estética Para Corpos Mutantes de Edvaldo Souza Couto

Couto neste ensaio traz reflexões interessantes sobre a hibridização de corpo humano e tecnologia. Ele evidencia a questão das constantes mutabilidades vivenciadas pelo corpo na sociedade contemporânea. Observa-se nos dias atuais que carnes, ossos e peles são misturadas a chips, próteses, implantes, transplantes. O corpo é cada vez mais submetido a cirurgias plásticas ou ao uso de medicamentos com o objetivo do retardamento do envelhecimento e da morte. Muitas pessoas motivadas pelo apelo das mídias transformam-se em verdadeiros ciborgues.
Vivenciamos um contexto onde tudo é muito rápido e nesta conjuntura não há tempo a perder, não há tempo para esperar, tudo precisa ser imediato. E, nesta perspectiva o corpo inacabado tornou-se objeto disponível a reformas, pronto para aumentar seus níveis performáticos e padrões de eficiência. Os órgãos podem são fabricados e podem ser substituídos pelos doentes ou ineficientes, estão à disposição para serem comercializados, atendendo ás demandas do mercado desse nosso capitalismo avançado.